Hugo Mota e a Polêmica na Câmara: Minha Visão Sobre a Crise com os Bolsonaristas

Análise do discurso de Hugo Mota sobre a democracia brasileira e a reação indignada dos bolsonaristas diante da postura do deputado.

Nos últimos dias, acompanhei de perto a turbulência na Câmara dos Deputados após o discurso do deputado federal Hugo Mota (Republicanos-PB) durante a sessão em homenagem aos 40 anos de redemocratização do Brasil. Em sua fala, Mota afirmou categoricamente que o Brasil não vive sob uma ditadura, não há perseguição política, presos ou exilados políticos, e que a democracia brasileira está em pleno funcionamento. Esse discurso mexeu com os ânimos, principalmente entre os parlamentares bolsonaristas, que reagiram com indignação.

A Reação dos Bolsonaristas

O que mais me chamou atenção foi o quanto as declarações de Hugo Mota irritaram os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Eles acusam o deputado de ignorar o que chamam de “perseguições políticas” e “injustiças do Judiciário”. Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por exemplo, usou sua recente mudança para os Estados Unidos como prova dessa perseguição. Outros parlamentares também não esconderam o descontentamento, especialmente em relação à demora na tramitação do Projeto de Lei de Anistia.

A expectativa dos bolsonaristas era que Hugo Mota, eleito com o apoio deles para a presidência da Câmara, priorizasse a votação desse projeto. No entanto, ele tem adotado uma postura bem diferente da que eles esperavam, o que gerou um clima de traição e muita reclamação pública.

O Caso Eduardo Bolsonaro: Exilado ou Fugindo da Justiça?

Entre as alegações mais repetidas pelos bolsonaristas está a ideia de que Eduardo Bolsonaro é um exilado político. Mas, analisando os fatos, percebo que essa narrativa não se sustenta. Eduardo não possui mandado de prisão em aberto, seu passaporte não foi apreendido, e ele continua recebendo salários e utilizando verbas públicas normalmente.

Aliás, uma rápida consulta ao Portal da Transparência mostra que Eduardo Bolsonaro gastou mais de R$ 1 milhão em verbas de gabinete em 2023, além do salário como deputado federal. O próprio Jair Bolsonaro, que também se diz perseguido, recebe mais de R$ 15 mil como capitão da reserva e aproximadamente R$ 40 mil mensais do Partido Liberal como presidente de honra. É difícil conciliar esses benefícios com a ideia de perseguição ou exílio forçado.

O PL de Anistia e a Crise Interna no PL

A maior fonte de frustração para os bolsonaristas, pelo que percebo, é a falta de avanço no Projeto de Lei de Anistia. Parlamentares como Carlos Jordy (PL-RJ) e Nikolas Ferreira (PL-MG) não escondem o sentimento de traição, alegando que apoiaram Hugo Mota com a expectativa de que ele agilizaria essa pauta.

Vale lembrar que a Procuradoria-Geral da República (PGR) já ofereceu acordos de não persecução penal para mais de 1.200 pessoas envolvidas nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Esses acordos permitem que os envolvidos escapem de penas e antecedentes criminais em troca de cumprir algumas medidas, como o uso de tornozeleira eletrônica e a participação em cursos sobre democracia. Mesmo assim, muitos bolsonaristas recusaram o acordo por motivos ideológicos.

Democracia em Pleno Funcionamento

Na minha visão, a fala de Hugo Mota reforça um ponto essencial: o Brasil não vive um regime de exceção. Nos últimos 40 anos, não houve censura institucionalizada, prisões políticas ou exílios forçados. A democracia brasileira, apesar dos ataques e das narrativas de perseguição, permanece sólida.

Renildo Calheiros (PCdoB-PE) destacou algo com o qual concordo plenamente: é fundamental agir com firmeza para defender o Estado Democrático de Direito. Permitir que essas narrativas se espalhem sem contestação representa um risco real à democracia. E, para combater isso, é preciso coragem e determinação.

Conclusão

O que ficou claro para mim é que o discurso de Hugo Mota expôs uma fratura dentro do campo bolsonarista. Enquanto eles tentam sustentar a ideia de que são vítimas de uma ditadura, os fatos mostram o contrário: as instituições estão funcionando, e a democracia segue firme. Esse embate certamente não acabará aqui, mas, até agora, as alegações de perseguição e exílio político não resistem a uma análise cuidadosa dos fatos.

Veja mais:

Política e Religião no Brasil: O Jogo de Poder que Deturpa a Fé

O Avanço da Extrema Direita: Como e Por Quê Combater?